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6 de julho de 2013

Sob as estrelas

ontem sob a estrelas enquanto
observava
(que é coisa que ninguém já sabe fazer)
voltou,a mim, a ficha que nos ensinava
que somos cósmicos,
que tudo não passa de pó interestelar

e que não vemos o mundo a girar
e a terra a rodar-a-dar
estando dentro dela
porque o pó que nos forma também muda de cor
e que cá dentro tudo gira a uma força magnífica
acompanhando a sinfonia astronómica exterior.

os nossos sorrisos são o a melodia dos violinos coordenados pelo
brilho das estrelas
e as mágoas cansadas, o rufar de tambores anunciando
o declínio de uma supernova.

enquanto isso, canta !, que a minha gigante vermelha
canta contigo.

3 de julho de 2013

Sou de re-ciclos

As conversas tornam-se
Repetições de outras:

Os nossos casacos de inverno
Começam a formar  um
Velho e bolorento borboto
E logo os substituímos
Por outro, na sua essência,
Igual.

1 de julho de 2013

Beba com moderação

Quando puxo as cordas
Da embriaguez  
Reconheço-me cansado.
Cansado de andar prá' aqui,
Jogado, entre múltiplas esferas
Opostas, sentindo senão o vento
Em contramão.

É então, no meu limite,
Que me durmo,

Horas depois, acordo ziguezagueando, a tentar
Cumprimentar a vida,
Que se fez para ser bebida. 

A vida é tudo,
Se ao lado se arrastar o gin:
Companheiro das mortas, vagas, 
Insuportáveis horas,
Que nos ensina que não devemos 
Beber mais da vida do que do copo.

Foi o crer para ver.

Tanto que: num dia o fiz,
No outro, em vez da cabeça
Confrangia-se a alma, de raiz. 

26 de junho de 2013

Prosa do desassossego.

Quando venho a "este sítio" vêm-me emoções imutáveis, que são de ciclos, e começo a questionar o meu lugar no mundo. Só os pensamentos aleatórios intraduzíveis por palavras - porque as palavras são pedras, se mantêm. Mas também os questiono como questiono a minha maturidade de ver o mundo - que não é maior ou menor, apenas diferente e igual a tantas. Deixo-vos, portanto, desassossegado.

14 de junho de 2013

Foder é perto de te amar.

Os seus átomos finais suplicavam agora por Clara. Queria sentir na sua ânsia nervosa, que se manifestava já fixamente, o cheiro da última e tentava abarcar a brancura do resplendor da sua pele evidenciada por um sol, que se enfiava sorrateiramente pelas frestas da persiana. Sol maroto, este que se compara aos homens quando querem enfiar, o todo ou as partes, aonde não são chamados.
Muitas cabeças doentes e dolentes sob o manto das correntes românticas apelidariam esta ansiedade sintomática de amor. Não e não. Que se foda o amor.Tudo o que ele queria era sentir um toque meramente humano de sangue quente. Foder. Fazer a roda de baixo girar e penetra-la com todos os membros a que teve direito. Foi assim que deus o decretou. Mas deus está morto e, agora penetrando-a, ele sente-se só vivo e lascivo. Um pedaço de carne libidinosa resultado da expurgação dos pecados mais carnais de um deus passado da validade.

Contudo de falinhas mansas ele expulsava pela boca meras balelas românticas como, Amo-te minha coelhinha! - tretas que tinha lido num livro atormentador de Hemingway, que ela tanto prezava. E ela vinha-se, dando um fim às tormentas do mundo, porque tudo começa e acaba num grande orgasmo feminino.

11 de junho de 2013

Preciso de cortar a mortas partes de mim

Preciso de cortar a mortas partes de mim,
Cabelo, unha e alma.
Livrar-me desta praga visceral
Que rindo me aponta dizendo:
"Morto estás enquanto respiras!"
Uma chaga que se habituou a ir ficando
E quando me perguntam, como vais?
Em replicação logo digo: vai-se andando!


7 de junho de 2013


Sinto-me aquela cadeira a arder
Sobre um fundo vermelho de tragicomédia
Mas o manto ledo e bafiento circunda e
Envolve-me, abafando o monóxido das
Minhas virtudes.

(a continuar, ou a nada conseguir acabar)

6 de junho de 2013



Saber viver é aprender a viver só
à deriva num mar angustiante que te vai engolindo
sorrateiramente.

3 de junho de 2013

Até vinha aqui falar, mas...

Cada  sinto mais a necessidade de haver uma recriação do conceito escola.
Sinto o peso da pressão, não atmosférica, mas de uma instituição que na mira vê a decadência, aliás, não apenas a vê mas, cada vez,  vive mais próximo dela.
Tem muitas qualidades, não há que negar. Contudo falha ao criar indivíduos- organismos conscientes do mundo que os rodeia e não do mundo que gira à sua volta. Identidades singulares não adormecidas pela massa que abafa as suas idiossincrasias.
Cria, pois, cápsulas, em modo automático, só capazes de agir de acordo com a norma: queimar as pestanas a estudar, ter um trabalho remunerador, casar, ter filhos, não desinquietar mentes captas.
Define-se, no fundo,por ser uma fábrica que produz  automóveis, autómatos, de todas as cores, desde que sejam de cor preta.
É certo que falar é fácil, escrever ainda mais, apresentar soluções, está quieto.
Mas não se preocupem, vim só aqui desinquietar, no conforto da minha cadeira, como bom português que sou.

De tanta ilusão



Somos mornos corpos decadentes
Que ocupam um espaço indefinido,
Êmbolos de motores de explosão que no final:
Puf!

Mas vivam agarrados à proa!
Não ao fogo-fátuo balbuciante de memórias que não as há,
Destarte,
Os neutrões do passado, esses, não os temos nem os devemos temer.
Nem o futuro me aguarda, pois eu o guardo nas linhas de minha palma.

"Caminha sem relutância!" diz uma parte de mim para os escombros.
Se a ilusão falasse diria, a regozijar-se, que já tinha engolido mais um
Direitinho para o estômago das desilusões.

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