ontem sob a estrelas enquanto
observava
(que é coisa que ninguém já sabe fazer)
voltou,a mim, a ficha que nos ensinava
que somos cósmicos,
que tudo não passa de pó interestelar
e que não vemos o mundo a girar
e a terra a rodar-a-dar
estando dentro dela
porque o pó que nos forma também muda de cor
e que cá dentro tudo gira a uma força magnífica
acompanhando a sinfonia astronómica exterior.
os nossos sorrisos são o a melodia dos violinos coordenados pelo
brilho das estrelas
e as mágoas cansadas, o rufar de tambores anunciando
o declínio de uma supernova.
enquanto isso, canta !, que a minha gigante vermelha
canta contigo.
poeta de meia-noite
o fingidor!
6 de julho de 2013
3 de julho de 2013
Sou de re-ciclos
As conversas tornam-se
Repetições de outras:
Os nossos casacos de inverno
Começam a formar um
Velho e bolorento borboto
E logo os substituímos
Por outro, na sua essência,
Igual.
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poemas
atenciosamente:
Gonçalo Embaló
1 de julho de 2013
Beba com moderação
Quando puxo as cordas
Da embriaguez
Reconheço-me cansado.
Cansado de andar prá' aqui,
Jogado, entre múltiplas esferas
Opostas, sentindo senão o vento
Em contramão.
É então, no meu limite,
Que me durmo,
Horas depois, acordo ziguezagueando, a tentar
Cumprimentar a vida,
Que se fez para ser bebida.
A vida é tudo,
Se ao lado se arrastar o gin:
Companheiro das mortas, vagas,
Insuportáveis horas,
Que nos ensina que não devemos
Beber mais da vida do que do copo.
Foi o crer para ver.
Tanto que: num dia o fiz,
No outro, em vez da cabeça
Confrangia-se a alma, de raiz.
atenciosamente:
Gonçalo Embaló
26 de junho de 2013
Prosa do desassossego.
Quando venho a "este sítio" vêm-me emoções imutáveis, que são de ciclos, e começo a questionar o meu lugar no mundo. Só os pensamentos aleatórios intraduzíveis por palavras - porque as palavras são pedras, se mantêm. Mas também os questiono como questiono a minha maturidade de ver o mundo - que não é maior ou menor, apenas diferente e igual a tantas. Deixo-vos, portanto, desassossegado.
atenciosamente:
Gonçalo Embaló
14 de junho de 2013
Foder é perto de te amar.
Os seus átomos finais suplicavam agora por Clara. Queria
sentir na sua ânsia nervosa, que se manifestava já fixamente, o cheiro da
última e tentava abarcar a brancura do resplendor da sua pele evidenciada por
um sol, que se enfiava sorrateiramente pelas frestas da persiana. Sol maroto,
este que se compara aos homens quando querem enfiar, o todo ou as partes, aonde
não são chamados.
Muitas cabeças doentes e dolentes sob o manto das correntes
românticas apelidariam esta ansiedade sintomática de amor. Não e não. Que se
foda o amor.Tudo o que ele queria era sentir um toque meramente humano de
sangue quente. Foder. Fazer a roda de baixo girar e penetra-la com todos os
membros a que teve direito. Foi assim que deus o decretou. Mas deus está morto
e, agora penetrando-a, ele sente-se só vivo e lascivo. Um pedaço de carne
libidinosa resultado da expurgação dos pecados mais carnais de um deus passado
da validade.
Contudo de falinhas mansas ele expulsava pela boca meras
balelas românticas como, Amo-te minha coelhinha! - tretas que tinha lido num
livro atormentador de Hemingway, que ela tanto prezava. E ela vinha-se, dando um
fim às tormentas do mundo, porque tudo começa e acaba num grande orgasmo feminino.
atenciosamente:
Gonçalo Embaló
11 de junho de 2013
Preciso de cortar a mortas partes de mim
Preciso de cortar a mortas partes de mim,
Cabelo, unha e alma.
Livrar-me desta praga visceral
Que rindo me aponta dizendo:
"Morto estás enquanto respiras!"
Uma chaga que se habituou a ir ficando
E quando me perguntam, como vais?
Em replicação logo digo: vai-se andando!
Cabelo, unha e alma.
Livrar-me desta praga visceral
Que rindo me aponta dizendo:
"Morto estás enquanto respiras!"
Uma chaga que se habituou a ir ficando
E quando me perguntam, como vais?
Em replicação logo digo: vai-se andando!
atenciosamente:
Gonçalo Embaló
7 de junho de 2013
Sobre um fundo vermelho de tragicomédia
Mas o manto ledo e bafiento circunda e
Envolve-me, abafando o monóxido das
Minhas virtudes.
(a continuar, ou a nada conseguir acabar)
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intimismo,
poemas
atenciosamente:
Gonçalo Embaló
6 de junho de 2013
Saber viver é aprender a viver só
à deriva num mar angustiante que te vai engolindo
sorrateiramente.
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intimismo
atenciosamente:
Gonçalo Embaló
3 de junho de 2013
Até vinha aqui falar, mas...
Cada sinto mais a necessidade de haver uma recriação do conceito escola.
Sinto o peso da pressão, não atmosférica, mas de uma instituição que na mira vê a decadência, aliás, não apenas a vê mas, cada vez, vive mais próximo dela.
Tem muitas qualidades, não há que negar. Contudo falha ao criar indivíduos- organismos conscientes do mundo que os rodeia e não do mundo que gira à sua volta. Identidades singulares não adormecidas pela massa que abafa as suas idiossincrasias.
Cria, pois, cápsulas, em modo automático, só capazes de agir de acordo com a norma: queimar as pestanas a estudar, ter um trabalho remunerador, casar, ter filhos, não desinquietar mentes captas.
Define-se, no fundo,por ser uma fábrica que produz automóveis, autómatos, de todas as cores, desde que sejam de cor preta.
É certo que falar é fácil, escrever ainda mais, apresentar soluções, está quieto.
Mas não se preocupem, vim só aqui desinquietar, no conforto da minha cadeira, como bom português que sou.
Sinto o peso da pressão, não atmosférica, mas de uma instituição que na mira vê a decadência, aliás, não apenas a vê mas, cada vez, vive mais próximo dela.
Tem muitas qualidades, não há que negar. Contudo falha ao criar indivíduos- organismos conscientes do mundo que os rodeia e não do mundo que gira à sua volta. Identidades singulares não adormecidas pela massa que abafa as suas idiossincrasias.
Cria, pois, cápsulas, em modo automático, só capazes de agir de acordo com a norma: queimar as pestanas a estudar, ter um trabalho remunerador, casar, ter filhos, não desinquietar mentes captas.
Define-se, no fundo,por ser uma fábrica que produz automóveis, autómatos, de todas as cores, desde que sejam de cor preta.
É certo que falar é fácil, escrever ainda mais, apresentar soluções, está quieto.
Mas não se preocupem, vim só aqui desinquietar, no conforto da minha cadeira, como bom português que sou.
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atenciosamente:
Gonçalo Embaló
De tanta ilusão
Que ocupam um espaço indefinido,
Êmbolos de motores de explosão que no final:
Puf!
Mas vivam agarrados à proa!
Não ao fogo-fátuo balbuciante de memórias que não as há,
Destarte,
Os neutrões do passado, esses, não os temos nem os devemos
temer.
Nem o futuro me aguarda, pois eu o guardo nas linhas de minha
palma.
"Caminha sem relutância!" diz uma parte de mim para os
escombros.
Se a ilusão falasse diria, a regozijar-se, que já tinha engolido
mais um
Direitinho para o estômago das desilusões.
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Gonçalo Embaló
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